Novo acordo para o português com Supremo, com tudo
Sugestões inovadoras para um idioma mais inclusivo, prático e eficiente
{ Há muitos debates hoje em dia sobre a validade da linguagem inclusiva, que tenta promover a representatividade e a igualdade através da comunicação. Tenho certa resistência em usar um “elu” ou um “amigues”, mas juro que não é por reacionarismo ou por ser um cara já vendo a terceira idade se aproximando numa disputa cabeça a cabeça com a Inteligência Artificial Geral (não sei qual me assusta mais nessa corrida em minha direção). É porque sou uma pessoa que adora regras. Tenho certeza de que se fizerem um novo Acordo Ortográfico e Gramatical e cadastrarem todas as novas palavras e expressões, vou adotá-las de bom grado. Aliás, tenho sugestões para mais mudanças na língua portuguesa, já que as últimas não facilitaram tanto seu uso pelo povão. Assim, seguem minhas propostas para tornar o idioma mais fácil para a população, mais interessante para os estudiosos e mais desconcertante para a IA:
SEPARAÇÃO DE SÍLABAS – O mundo mudou. Casais estão se separando com muito mais frequência e a lei desburocratizou o processo. O mesmo tem que ser feito no português. A separação das sílabas precisa ter regras mais flexíveis. Se ambas as sílabas estiverem de acordo com a separação, não é preciso observar regras. Que se separem e pronto. Assim, seria possível usar “Eu-ro-pe-ia” ou “Eu-ro-pei-a”; “car-ro” ou “ca-rro”; “re-ssus-ci-tar”, “res-sus-ci-tar” ou mesmo “re-ssu-sci-tar”.
GLOBALIZAÇÃO – O K e o Y foram introduzidos no português (há quem suspeite de um lobby da Johnson & Johnson), deixando o caminho mais fácil para a penetração também do W. E está tudo bem. Mas se abrimos as portas para letras de outros alfabetos, por que continuarmos com barreiras para a imigração de letras árabes, cirílicas, hindis etc? A chegada de mais letras ao nosso idioma traria riqueza cultural. É claro que muita gente será contra, dizendo que é preciso checar seus antecedentes, ver quem são seus parêntesis, se querem vir com o intuito de assaltar cifrões, usar barras para agredir outras letras, falsificar chaves, invadir colchetes e roubar aspas dos outros. Mas sou otimista.
NOVOS TEMPOS VERBAIS – Se já temos algo como o “pretérito imperfeito”, podemos criar o “presente imperfeito” para abrigar os deslizes de conjugação da população. Desse modo, haveria menos erros de português, já que os absurdos seriam classificados nesse novo tempo verbal. Para o caso das letras de brazilian funk, podemos criar o “presente mais que imperfeito”.
TREMA – O trema era querido por muitas pessoas. Sua abolição ajudou a tornar o idioma mais fácil, mas causou um choque entre seus fãs. Defendo a sua volta com flexibilidade. Alguns podem continuar ignorando o sinal e outros podem utilizar nas palavras que já usavam esse belo enfeite. A inovação viria para os indecisos: apenas um pingo no “u” em vez de dois.
REESTRUTURAÇÃO DAS PESSOAS – Reforma geral nas conjugações. A primeira coisa a fazer é eliminar o “vós”, deixando para uso exclusivo de pregações religiosas e discursos de coachs. Também precisamos incluir o “você”, que já mostrou seu valor. Como é mais usado do que o “tu”, tomaria deste a posição de segunda pessoa. Devemos incorporar ainda o “a gente”, que é muitíssimo popular. E em tempos de campanhas por um mundo mais solidário, podemos aproveitar as alterações e promover o “nós” a primeira pessoa, no lugar do “eu”, que é muito egoísta. Assim, o “eu, tu, ele, nós, vós, eles” mudaria para “nós, você, tu, eu, ele/ela/elu, a gente, eles/elas/elus”.
ALGARISMOS ROMANOS – Esse recurso está em vias de extinção. É preciso salvar os algarismos romanos. Em outro artigo (que nenhum jornal aceitou publicar, não sei por quê), já defendi o uso desses algarismos no uniforme da seleção italiana de futebol. Mas não podemos deixar com os italianos a solitária responsabilidade pela preservação dos algarismos romanos. O mundo deve se unir. Proponho o uso de algarismos romanos em frases que comecem por números. Os algarismos romanos seriam “números em maiúsculo”. Dessa forma, escreveremos: “IV pessoas foram mortas ontem em Sulacap”, “XIX novos bilionários surgiram no Brasil no ano passado” e “DCCCXCVIII pessoas foram responsabilizadas por atos antidemocráticos”.
HÍFEN – A regra não é clara, Arnaldo. É incoerente. Melhor que exterminar o hífen, seria usá-lo em todas as palavras compostas. Mas para ele se tornar mais atraente e ter seu uso mais acolhido pelos jovens, é melhor dar uma nova roupagem ao sinal. Em vez do traço flutuante, vamos usar um ponto, para deixá-lo mais atualizado, mais conectado com o universo virtual. Assim, ficaria: auto.retrato, anti.social, micro.ondas, anti.vírus, hiper.inflação etc.
GENTILEZA – Não é possível criar jovens mais empáticos enquanto permitimos o uso do “imperativo” assim, tão seco, deselegante e brutal. O “imperativo” e o “imperativo negativo” passarão a ser chamados “imperativo por favor” e “imperativo negativo por favor”. As escolas ensinarão o “faça você por favor” e o “não façamos nós por favor”. É possível flexibilizar ainda a nomenclatura para “imperativo na boa, tô pedindo”.
SINAL DE IRONIA – Cada vez mais uma necessidade. A falta de entonação ou de trejeitos faciais na comunicação virtual está criando uma geração que não consegue identificar falas irônicas. Há quem sugira sempre o uso de exclamação ao fim da frase, como já fazem os jovens. Mas isso causaria um choque com os mais velhos, que usam a exclamação para emoção, ordem, alegria, surpresa etc. A solução é um sinal menos utilizado, como o < e o >, mais comuns na matemática. Sim, sugiro que a frase já comece com < e termine com >, para que o leitor não deixe de se irritar só no fim da mensagem. Também defendo o uso de { } para indicar que algo é apenas um texto bobo, sem nenhuma intenção de ofender, em uma clara referência ao personagem Chaves. }
estava de acordo com tudo, até chegar aqui: “DCCCXCVIII pessoas foram responsabilizadas por atos antidemocráticos”. sugiro uma modulação: se passar de dez, não usamos números em começos de frase, substituímos por “um monte”, “uma pá”, “uma porção”, “uma caralhada”… quem é de humanas vai agradecer.
Bah, "elu" é de cair o cu da bunda.
Da bunde, da bundu, da bundx, da bnd.