Dr House policial, comédia bizarra com aviões, NY, peça orwelliana e zumbi velho
Análises rápidas sobre Dept. Q, O Ensaio, How To, 2+2=5 e Extermínio. E ainda, uma história tão legal que foi parar em dois podcasts diferentes
O QUE VI
Dept. Q – Tenho a sensação de que, na maior parte das vezes que solto a edição de curadoria, os leitores já ouviram falar do que analisei ou até já assistiram ao filme ou série. A utilidade da newsletter não chegaria a ser exatamente informativa, servindo mais como reforço para uma pré-existente vontade de ver ou de nem chegar perto da produção, ou mesmo pra ver se as opiniões bateram. Mas de vez em quando encontro algo que não está no radar geral do público e que vale a pena indicar. Aí me bate até uma alegria, uma impressão de que desta vez a lista vai fazer a diferença. É o caso de Dept. Q, minissérie britânica lançada mês passado pela Netflix, com nove episódios. A história tem como personagem principal um detetive policial genial, mas bem rabugento, que se acha ou se sabe superior aos colegas, bem no estilo Dr. House. O interessante é que a série pega um momento particular na vida do inglês Carl Morck, que trabalha na polícia escocesa. O sujeito leva um tiro que o põe em coma por uns meses e o deixa ainda mais problemático, enrolado com os colegas de trabalho e com a família. Em meio à recuperação e à investigação do crime que o vitimou, Morck ganha a chefia de um novo departamento, criado por motivos políticos, para tentar resolver casos já arquivados. Durante toda a série, Morck e outros personagens interessantíssimos investigam o desaparecimento de uma desagradável promotora dada como morta, em uma trama que vai espertamente apresentando pistas que podem dar em nada ou levar para caminhos importantes. Acredito que os fãs de Slow Horses vão curtir. A produção é baseada em uma série de livros dinamarqueses, o que possibilita novas temporadas. Eu tô aqui na torcida.
O Ensaio – A segunda temporada do programa criado e apresentado pelo peculiar Nathan Fielder, na HBO, é uma das coisas mais bizarramente engraçadas que já vi. Bate a primeira temporada em esquisitice e situações inusitadas. Mas é claro que não é pra todo mundo. Chamei meu filho, que viu comigo a temporada anterior, para assistir a uma cena específica, do episódio 3. Em meio a risos, ele comentou “mamãe iria odiar ver isso”. Então realmente não dá para garantir se você vai se entusiasmar como eu. Como eu já tinha comentado em outra edição, antes de terminar os seis episódios, a série ousa fazer humor com um tema barra-pesada: acidentes aéreos. Não faça careta. A intenção de Nathan é das mais nobres, pois ele tenta acabar com um dos motivos que acredita ser parte das causas das catástrofes. Comentei sobre a produção com um amigo que é piloto, e ele já tinha ouvido falar na proposta do comediante, que repercutiu no meio. E é bom assistir até o fim, quando descobrimos o grau de envolvimento de Nathan com o assunto.
How to with John Wilson – Estava eu comentando sobre O Ensaio em uma festinha (para vocês verem como a série me pegou) e uns amigos falaram de programas anteriores de Nathan Fielder, que nunca vi. Eles recomendaram também outra série da HBO que ele produziu, sobre outro cara meio maluco, o tal do John Wilson. Quando o algoritmo da plataforma também me indicou o programa, fiquei convencido a dar uma chance. Até porque o formato é bem tranquilo de acompanhar, com episódios curtos que não se conectam entre si. Minha esposa começou a ver quando eu já estava no terceiro, e tá tudo bem. Wilson é um cara meio obcecado em gravar o cotidiano de Nova York, capturando flagrantes inusitados dos cidadãos. Aí ele encontra um tema que une algumas dessas cenas e complementa com algumas entrevistas ou até com viagens a outras cidades, para chegar a uma conclusão sobre o assunto abordado. É comédia com toques de antropologia. Vale muito.
2 + 2 = 5 – Quem já leu 1984, de George Orwell, sabe que essa continha de resultado esquisito é uma das famosas passagens do livro, assim como o Grande Irmão, a novilíngua e o duplipensar. Todas elas estão nessa livre adaptação da obra prima de Orwell (até hoje meu livro favorito), ambientando a trama no Brasil desse universo distópico. A montagem dos atores músicos da Agrupação Teatral Amacaca, de Brasília, é um dos três espetáculos que eles trouxeram para o CCBB do Rio, em uma temporada que vai até 29 de junho. Eu só vi essa baseada em 1984, que me assustou no início, porque começa com um pouco de interação com o público (de leve, dá pra ignorar abordagem) e emenda em música ao vivo. Cheguei a temer que se tratava de um musical, mas logo entraram as cenas normais, cheia de boas sacadas com referências a discursos religiosos, de coachs e de posts de redes sociais, atualizando a atmosfera pessimista imaginada por Orwell. Apresentações às sextas e sábados, às 19h, e domingos, às 18h. Recomendo.
Extermínio – Desculpe decepcionar, mas vou falar do primeiro filme, não sobre a continuação, que acabou de chegar aos cinemas. Sobre essa vou ficar devendo, pois só vou conseguir assistir na semana que vem. Mas faço questão de comentar aqui porque acabei de rever o original. Curiosamente, minha esposa, que odeia filmes de terror, adora filmes de zumbi. Pois é, também não sei explicar. Um dia, falando sobre The Last of Us, comentei com ela sobre esse filme de Danny Boyle, de 2002, que também tem zumbis que correm. Ela se interessou, mas não achamos uma boa cópia no streaming. Se não me engano, tentamos ver uma versão de baixa definição no FX ou no Star +, não lembro. Desistimos. Mas eis que o filme voltou à baila, com a continuação dirigida por Boyle, escrita pelo mesmo roteirista (Alex Garland) e de novo com Cillian Murphy. Caçamos de novo o primeiro e achamos para alugar no Prime Video, por uns R$ 5. E é aqui que entra a informação: a cópia também é de baixa definição. Se você for ver em uma TV LCD de altas polegadas, terá uma experiência ruinzinha. Foi o que rolou com a gente. No entanto, a pilha que a esposa estava para conferir o filme era grande, e entubamos. Continuei achando bem bom, e ela curtiu também. Se você estiver com pressa para ter uma boa análise da nova sequência, a dica é a crítica do Rodrigo Salem, aqui neste link.
O QUE OUVI
Transplante de rim entre amigos
Não cheguei a comentar aqui na Pônei de Troia sobre uma bela edição do Podcast da Semana, da Gama Revista, publicada no início de junho. É uma entrevista com o ator Thiago Amaral e o dramaturgo e músico Vinícius Calderoni, respectivamente doador e receptor de um rim.
O caso é tão legal que o Rádio Novelo Apresenta foi atrás e produziu um episódio expandido, incluindo outras histórias que se relacionam com o acontecimento, incluindo mais personagens para deixar a coisa toda ainda mais fascinante.
obrigado por ter lido até aqui. na última edição de curadoria, falei que estava entendendo, pelo número de likes, que os leitores não estavam mais se empolgando com as análises de streaming e cinema, preferindo as edições autorais. ameacei parar e foi chuva de like. tô entendendo isso como um recado, algo como “Não, cara. Continua fazendo a edição de curadoria também. Eu não vou escrever nos comentários que ela é legal, nem vou usar o chat para comunicar isso. Mas vou botar um like aqui para você ficar animadinho e continuar com a parada, ok?”. Então as análises continuam. Na semana passada, na edição de curadoria, acho que mandei mal no título, que não diz muito sobre o texto em si. Para se guiar, vai direto no subtítulo, que informa melhor. Recomendo para leitores da geração X, mas os millenials também podem se identificar. Tá aqui o link ! Valeu, bom feriadão para quem tá enforcando. Até!
Já que você citou Nathan Fielder e How To With John Wilson no mesmo texto, vale assistir "The Bread Scene", um dos melhores vídeos da história do Youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=RCNsx_NyNOU