Sucesso é apelido
O inusitado motivo da crise do futebol brasileiro e sua ligação com o tráfico
A Seleção Brasileira não ganha uma Copa do Mundo desde 2002. Um brasileiro não vence o Mundial de Clubes desde 2012. Atualmente, nas eliminatórias para o torneio de 2026, o Brasil se encontra na quinta posição, deixando gente já com medo de ficarmos fora de uma Copa pela primeira vez na história da Humanidade. Há várias opiniões sobre o motivo da aparente decadência de nosso futebol. Muitas até boas. No entanto, parece que ninguém além de mim vê que a verdadeira razão para a crise é uma só: o fim dos grandes apelidos dos jogadores nacionais. É incrível como as pessoas não veem a importância disso, não fazem a relação entre os nomes sem graça e mau momento, não entendem como a forma divertida e moleque com que um craque é chamado alimenta a torcida e os próprios colegas dele em campo.
Nenhum outro país usa ou já usou tanto os apelidos para batizar seus jogadores. Aposto que muitos estrangeiros nem tinham ideia de que Didi, Zito, Garrincha, Tostão, Vavá e Pelé não eram os nomes verdadeiros de craques que se consagraram levantando taças. Lembro-me até que em algumas copas antigas, a escalação que aparecia na TV, fornecida pela emissora estrangeira geradora das imagens, contava com um monte de desconhecidos na Seleção. O pessoal tinha que pensar duas vezes pra entender que aqueles sobrenomes sem graça eram de jogadores com apelidos originais. Se não me falha a memória, cheguei a ler um Antunes no lugar de Zico. Mesmo já nos anos 80 e 90, ainda tínhamos, além do galinho, atletas na Copa como Serginho Chulapa, Roberto Dinamite, Branco, Alemão, Careca, Dunga, Müller, Zinho, Mazinho, Viola e Bebeto. Na última que vencemos, ainda tínhamos Dida, Kaká, Cafu e, por Deus, VAMPETA. Vou deixar de fora os diminutivos como Edinho, Jorginho e Ronaldinho. São uma área cinzenta no campo da nominação.
Nos últimos anos, me chamou a atenção a profusão de nomes como Denílson, Kleberson, Edmilson e Edílson vestindo a camisa amarela. Parecia até uma seleção escandinava. Na última Copa, tínhamos apenas um Paquetá, que nem é um apelido muito forte, pois se trata apenas do lugar onde o jogador nasceu. Talvez tivéssemos um pouco mais de chances de conquista se Richarlison metesse logo um “Pombo” em cima de seu número. Voaríamos mais alto.
Mas onde estão hoje os apelidos de que o povo tanto gosta? Estão lá no mundo do crime. Imagine se alguém voltasse no tempo e mostrasse a um cidadão uma lista com os nomes de Ederson, Danilo, Marquinhos, Gabriel, Abner, André, Lucas, Savinho, Raphinha, Rodrygo e Igor. E depois mostrasse uma com os nomes de André do Rap, Baixinho, João Cabeludo, Playboy, Tandera, Xixi, Caipira, Peixão, Abelha, Varão e Naval. Quando perguntassem que time venceria a partida, o feliz senhor dos anos 70 iria apostar todas as fichas no time de Tandera e companhia. Com certeza. Sem zebra. Os apelidos da bandidagem são tão criativos que nem os jornais estão sabendo escrever direito. Veja o caso do meu capitão da seleção bandida, o Tandera. O correto seria Thundera, o planeta dos Thundercats. Já aconteceu antes. Nos anos 90, tivemos o carioca Mightor. A alcunha surgiu quando o traficante ficou conhecido entre os colegas por usar uma machadinha para punir bandidinhos menores. Como a cabeça dessa galera não é lá muito confiável, a machadinha do rapaz foi aos poucos associada ao martelo do Thor. Só que na mesma época, havia um personagem da Hannah-Barbera chamado Mightor, uma espécie de versão pré-histórica do deus nórdico. Não é difícil misturar tudo. Mas como a cabeça dos jornalistas também não é grande coisa, Mightor virou Mytor, Maitór e outras aberrações que figuraram nas manchetes dos jornais populares.
E já que os apelidos estão dando fama a integrantes do crime organizado, por que não fazer o mesmo em organizações ainda mais complexas? Por que arriscar a sorte nas urnas com sobrenomes pomposos mas já manchados por anos e anos de difamações ou mesmo apenas suspeitas? Chega de Neves, Mellos, Calheiros, Jeffersons, Maias, Magalhães, Sarneys e Bolsonaros. Os próximos candidatos dessas famílias podem muito bem usar apelidos para evitar problemas de reconhecimento e ganhar um eleitorado ainda maior de forma camarada e popular. Fica a dica. Daqui a pouco é 2026, com urnas e Copa.
Em defesa dos jornalistas, provavelmente os próprios apelidados também devem escrever seus nomes da forma errada, e quanto a seu último parágrafo, achei a comparação injusta com os traficantes.